O cantor Zé Ramalho, 61 anos, era apenas um rapaz “inocente puro e besta”, quando ouviu, na rádio AM de João Pessoa, I Want to Hold Your Hand, dos Beatles. E assim, ele, que tinha tudo para ser mais um forrozeiro ou violeiro, aos 15 anos, mergulhou fundo no universo do rock. O artista lembra com prazer dessa experiência no momento em que lança o álbum Zé Ramalho Canta Beatles (Discobertas). “É uma mostra da reverência que tenho por esses caras, que tanto me inspiraram e continuam inspirando tanta gente pelo mundo afora”, diz o autor de Avôhai, que na juventude cantou muitas versões dos Beatles em bandas de baile como Os Quatro Loucos. A capa do disco faz alusão ao segundo álbum de estúdio dos ingleses, With the Beatles, e troca os rostos de John Lennon (1940-1980), George Harrison (1943-2001), Paul McCartney e Ringo Starr por quatro poses do cantor paraibano. Já em suas 16 faixas, Zé passeia por vários momentos do quarteto de Liverpool. A primeira e a segunda música, Golden Slumbers e Carry That Weight, por exemplo, são do álbum Abbey Road. Há canções de Help (I Need You), Let It Be (The Long and Winding Road), assim como de discos-solo dos músicos, como Imagine (Jealous Guy) de Lennon, e All Things Must Pass (Isn’t it a Pity), de Harrison.
Forró-pop Calcadas em voz, violão e programações de bateria, algumas músicas, como a citada I Need You, possuem um clima um tanto monótono. Mas em faixas como A Day in The Life e Dear Prudence, Zé realmente dá uma cara original às composições dos Beatles. Ao abusar de sanfona, zabumba, pandeiro e triângulo, ele transforma, por exemplo, While My Guitar Gently Weeps, de Harrison, num ótimo ‘forró-pop’. Já o inglês com sotaque nordestino, que pode fazer alguns torcerem o nariz, é algo que Zé defende com orgulho: “Como nordestino não tenho a mínima vergonha de cantar em inglês. O sotaque está presente e não procuro fazer nenhuma pronúncia britânica”. Quinto trabalho da série Zé Ramalho Canta, na qual interpreta músicas de artistas importantes para sua formação, como Raul Seixas, Bob Dylan, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, a homenagem aos Beatles foi, na verdade, a primeira que ele começou a trabalhar, em 1999. “Esse projeto é uma peregrinação beatlemaníaca por estúdios e estúdios, onde fomos juntando esses fonogramas e completamos com versões atuais”, conta ele, que também produziu o disco.
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